Como ajudar o seu filho a ler

A nível académico, a aprendizagem da leitura surge como um marco fundamental no percurso da criança. Esta aprendizagem contribui para o processo de autonomia da criança, ajuda-a a obter melhores resultados académicos, e a possuir uma auto-estima mais elevada.

Os pais, bem como outros adultos de referência, possuêm um papel fundamental nessa aprendizagem, desde os primeiros meses de vida. De seguida, ficam algumas ideias simples, que podem estimular a criança para esta descoberta fundamental:

- Ler, com frequência, para o seu filho. Esta é uma actividade que pode ser realizada desde os primeiros tempos de vida duma criança. Apesar de, no princípio, a criança não compreender, o objectivo é que ela fique familiarizada com o som da sua voz, e se acostume a ver e a tocar em livros;

- Conte histórias, incentivando a criança a realizar perguntas e a falar da história que acabou de ouvir. Procure associá-la a acontecimentos do dia a dia do seu filho;

- É importante que os livros apresentados à criança adequem-se à sua maturidade. Nos primeiros anos de vida, livros ilustrados com figuras apelativas e pouco texto são os mais recomendados.

- Tenha sempre disponíveis, e de fácil acesso, materiais de pintura e de escrita;

- Recomenda-se a aquisição dum dicionário infantil, de preferência daqueles que possuêm imagens ao lado das palavras. Procure desenvolver o hábito de pesquisa, como o de, ao brincar com a criança, provocá-la dizendo frases tais como: "Vamos descobrir o que isto significa?";

- Visite com frequência bibliotecas e livrarias;

- Por último, mas de extrema importância, dê o exemplo. As crianças desejam e procuram identificar-se e imitar os seus pais. Leia, leiam juntos. Desse modo, estão juntos a explorar e a relacionar-se com o livro e a leitura.

Como lidar com as birras?

Uma criança aos berros no chão do supermercado... A gritar que não quer jantar... Raro é o pai que nunca teve de lidar com uma birra do filho. Entre os 18 meses e os 3/4 anos, quase todas as crianças passam, com menor ou maior intensidade, por momentos destes, o que deixa frequentemente os pais desarmados, sem saber como reagir.

A boa notícia é que tal situação é um sinal de crescimento, e é característica duma fase em que a criança procura afirmar-se, com sentimentos e vontades próprias.

Apesar de ser difícil lidar com este tipo de comportamentos, eles podem tornar-se em óptimas oportunidades de ajudar a criança a aprender a conviver com sentimentos como a frustração e a zanga, e a desenvolver a capacidade de auto-controlo. A tarefa dos pais é ensinar à criança outras formas de expressar as suas necessidades, e a aceitar o facto de que nem sempre lhe fazem a vontade.

Nestes momentos, é necessário que os pais não tenham receio de dizer não, explicando a razão de o fazerem. Cabe-lhes ensinar aos filhos que as birras não os farão mudar a sua opinião, bem como que o seu amor pelo filho não se alterará. Se mesmo assim não resultar, procure distraí-lo ou não lhe dê atenção por alguns minutos. Muitas birras terminam quando deixam de ter público e, com os pais por perto, tornam-se mais difíceis de controlar.

Após a criança controlar-se, felicite-a por ter optado pelo bom comportamento, e procure falar com ela sobre alternativas de conduta mais eficazes que as birras.

Só com firmeza as crianças aprendem a respeitar as regras propostas pelos pais. Aprender que tudo tem limites, abre caminho para um convívio saudável com os outros e para uma boa integração na sociedade.

O objectivo é a autodisciplina, porém, não pense que esta será a última birra...

Agressividade ou falta de limites?

A sociedade actual exige cada vez mais dos pais: em termos de disponibilidade prestada; dos cuidados necessários; da difícil gestão de situações e problemas; o boom de informação à qual as crianças têm acesso; um regime escolar mais permissivo instalado; entre outros. Desta extrema exigência face à multiplicidade de factores, componentes e intervenientes, é comum os pais depararem-se com dificuldades em lidar com a agressividade dos seus filhos.


Quando um bebé nasce, ele traz na sua "mala de ferramentas" impulsos amorosos, mas também agressivos. A agressividade é fundamental para que a criança aprenda a defender-se e a impor-se no meio em que vive e se desenvolve, para afirmar-se e ensaiar-se enquanto pessoa. Nesta experiência que é o crescer, a criança não sabe controlar essa agressividade, ou seja, não consegue usar de modo adequado esta "ferramenta".

Geralmente, os comportamentos agressivos ocorrem quando a criança se sente frustrada ou quer comunicar que algo não está bem. Com muita frequência, a criança provoca um adulto para que ele possa intervir por ela e controle o seu impulso agressivo, já que ela é pequena e não tem condições de o fazer autonomamente. Nesses momentos, é como se o adulto emprestasse o seu auto-controlo à criança.

O comportamento agressivo infantil resulta, numa perspectiva desenvolvimental, na ausência de estratégias pessoais para organizar respostas melhor adaptadas à necessidade de conforto e segurança que a criança tem diante de situações ansiogénicas. Assim como os pais ajudam uma criança a andar, a falar... também a devem ensinar a controlar a sua agressividade e a aprender a hora e o modo correcto de a exteriorizar.

À medida que cresce, a criança aprende com os adultos que existem diferentes formas de se defender e obter aquilo que deseja. Quando os pais e/ou educadores ensinam que não é necessário tirar aos colegas os brinquedos, mas que é possível pedir para brincar com eles, ou chegar a um entendimento sobre como dividi-los, eles estão a ensinar à criança estratégias sociais que podem substituir condutas agressivas. Se este tipo de estratégia se mostrar eficaz, gradualmente a criança aprende a negociar e, se o ambiente no qual se insere valorizar essa atitude, gradualmente a conduta agressiva passa a ser menos frequente que as restantes estratégias para controlar o ambiente. É por isso que as lutas vão diminuindo de frequência com o seu desenvolvimento.


Para que as crianças apresentem uma forma legítima, natural e saudável de agressividade, é conveniente que os pais sejam tolerantes para com os filhos, aceitando-os e compreendendo-os de forma absoluta, mas justa. Dessa forma, estaremos a contribuir para que a independência e a criatividade sejam traços marcantes no desenvolvimento da criança, privilegiando simultaneamente na relação, a construção, o estabelecimento e a interiorização (compreensão e aceitação) de regras e limites, num exercício contínuo de respeito pelos outros e pela natureza.


A questão das regras e dos limites assume um papel educativo cada vez mais importante, visto verificar-se grande receio, por parte dos pais, em reprimirem, censurarem ou limitarem os seus filhos, fazendo da permissividade uma forma de lhes agradar e compensar possíveis ausências resultantes do ritmo de vida actual, expresso na falta de tempo para estarem e acompanharem os filhos. Porém, tal acarreta o enorme risco de gerar crianças que não conhecem os seus limites, e que não sabem lidar com sentimentos de frustração.

Ou, noutro sentido, crianças sujeitas a uma conduta de risco devido à inconsistência na forma de colocar limites. Tal pode deixar a criança confusa sobre o que pode ou não realizar, e torna difusa a compreensão do que é certo e do que é errado. Também não é raro encontrem-se pais que estimulam a conduta agressiva dos filhos, principalmente dos meninos, para a resolução de conflitos.

Apesar de não existirem receitas ou guiões para lidar com a agressividade duma criança, ficam aqui algumas ideias que podem ajudar no dia-a-dia. São elas:

- É necessário aceitar que, bem doseada, a agressividade é natural e até essencial para a criança poder brincar com os seus sentimentos agressivos, de forma a poder desenvolver a consciência da diferença entre a brincadeira e a verdadeira violência;

- Quando existe uma agressão por parte da criança, importa perguntar o motivo de tal gesto. Mesmo que a criança não responda, ajuda-a a pensar. Posteriormente, fazê-la pedir desculpa à agredida;

- É importante incentivar o diálogo e ser paciente. Muitas vezes, o tom de voz é determinante e diz mais do que as palavras. Procure ouvir a criança;

- O estabelecimento de limites claros é promotor do desenvolvimento da criança. Quando for necessário, dizer não, explicando o motivo da decisão. Não ter receio em impor a autoridade;


- Os adultos, enquanto modelos de referência, devem dar o exemplo e assim, não bater nas crianças;


- Manter a expectativa positiva face à criança e reforçar o comportamento adequado.

Normalmente, a agressividade não expressa "raiva", mas sim sentimentos como a insegurança, a mágoa, entre outros. É necessário ter em atenção o aumento da agressividade de uma criança, procurando compreender as causas por detrás desse comportamento.


"Disciplina é o segundo mais importante presente que os pais podem dar aos filhos. O amor vem em primeiro lugar, mas aprender a dominar sentimentos fortes como a raiva e a desilusão e comportar-se dentro de certos limites vem em segundo lugar."



T. Berry Brazelton